Salto de Precisão – Técnicas I

Por Gustavo Ivo

Salto de Precisão

Técnica de salto em que o corpo é projetado de um local a outro, de modo a preservar o corpo tanto na saída quanto na chegada; além de potencializar a condição física do praticante. Ou seja, é uma técnica para te ajudar a se locomover com segurança e eficiência.

As aplicações e variações do salto são infinitas e variam a depender da situação. Essa, entretanto, é uma tentativa de elencar os princípios do salto. Assim esses mesmos princípios podem ser adaptados para outros ambientes, condições físicas ou jeitos diferentes de cada praticante.

Aqui nós vamos trabalhar com uma precisão “padrão”, sem grande diferença de altura, em distância confortável, em concreto, com nosso grande amigo Jarbas Rodrigues (roubei de um vídeo dele. xiu. :P)

Drops, saídas e chegadas de um pé, passadas, precisão subindo, saltos no limite de distância do praticante, ladeiras, saídas e chegadas de lado, ambientes mais apertados…são todas outras variações e adaptações importantes, mas que não vamos abordar aqui, mas que você pode lembrar de alguma dessas dicas quando for encará-las.. É importante em alguns momentos sair da zona de conforto e treinar em ambientes incomuns.

É incrível como algo tão natural e orgânico como saltar pode ser tão simples e complexo ao mesmo tempo. Não tente realizar todas essas dicas ao mesmo tempo, vá com uma de cada vez e depois adicione os outros detalhes. Ouça e perceba seu corpo, procurando o que está desconfortável e aperfeiçoando. É uma das técnicas que provavelmente você vai treinar pro resto de sua vida no parkour.

Sem pressa, jovem gafanhoto. Divirta-se pululando 🙂

OBS: Esse é um conhecimento construído através de minhas percepções pessoais e experiências, e está sujeito a mudanças ou erros, fique à vontade para tirar dúvidas ou criticar, quanto mais conhecimento, melhor. O termo “erro comum” é para chamar atenção para ações que tendem a causar problemas, mas a ideia não é apontar o que é certo e errado, mas sugerir. Espero que consiga agregar e aprender algo dessas dicas para entender melhor seus saltos.


Pontos Importantes:

  • FORÇA – Você precisa de força muscular para conseguir tirar seu corpo do chão, treine ao menos o básico da parte inferior do corpo.

Vídeo sugestão de treino Inferior: Zeno.
Existem muitos outros treinos pelo youtube, priorize de início os de calistenia e parkour, sem equipamentos extras.

  • SINCRONIA – Muitas vezes o que falta em alguns praticantes é sincronizar os movimentos do corpo, de entender o momento em que cada coisa reage. Mas lembre-se, seu corpo é um só, move-se como um só. Todo seu corpo deve se mover para o lugar que você quer chegar. Esse ritmo vêm com tempo e prática.
  • PRÁTICA – Repita. Repita muitas vezes procurando melhorar a cada precisão. Seu cérebro precisa entender o que você está fazendo, e ele entende através do movimento. Quanto mais prática, melhor será a reação neuro-muscular de seu corpo, e você vai começar a saltar melhor e mais naturalmente. No início não será tão perceptível, mas haverá um momento “click” em que o corpo vai reagir com muito mais harmonia e energia.
  • NATURALIDADE – Calma. Saltar é quase tão parte de você como andar, você só precisa acordar seu corpo pra isso. Seu corpo se adaptará e o movimento ficará instintivo, sem racionalizar muito e sentirá mais segurança.

Vamos lá.

Da posição em pé, logo depois segue-se:

 1.

JOELHOS – Flexionados até ponto confortável e de potencial para explosão

O ponto exato vai variar de praticante para praticante, mas no meio termo da flexão ligeiramente mais aberto(~45°) parece ser um ponto em comum entre os praticantes.

Evitar agachar demais (encostar a bunda no calcanhar) – sobrecarga nos joelhos e mais dificuldade para explosão.

Evitar deixar muito esticado – A potência do salto vêm do movimento de flexão das pernas (contração dos grandes músculos das pernas – quadríceps, bíceps femoral, glúteos e panturrilhas), se você não flexiona, você não salta no seu potencial.

OBS: Pessoas com dificuldade de agachar, ficar de cócoras e outros problemas de mobilidade nos quadris, coluna, tornozelo…podem buscar trabalhar essa mobilidade para tornar o salto mais confortável.

PÉS – Ponta ou peito do pé no chão. Assim que você começar a agachar, o calcanhar sai do chão. É o pé que vai conectar toda a transferência de energia entre o solo e seu corpo, sinta o pé firme no chão. E  ponta de pé para começar a ajeitar o resto do movimento.

Em alguns casos, deixa-se o corpo ir levemente para frente antes do salto. No caso da figura o centro de gravidade dele está quase todo em cima do muro.

Junte os pés. Aqui é uma preferência pessoal, e de muitos praticantes experientes que conheço, de deixar os pés juntos porque me dá mais estabilidade e sensação de controle, além de ser uma posição mais adaptável a locais apertados. Porém há quem prefira ir com as pernas abertas. (Há uma experiência do Parkour Science que diz que saltar com as pernas abertas, em relação com os ombros, é uma forma mais propensa a ir mais longe, por causa dos vetores), mas eu não gosto. >_< E tem umas coisas que não me identifico também nesse vídeo, e é meio antigo/desatualizado.

OBS: Em outros esportes, como atletismo ou basquete, ou situações em que precisamos saltar mais longe, é comum esses atletas tocarem primeiro o calcanhar e fazerem uso da capacidade elástica dos tendões para ganhar mais impulso. Entretanto, pra realidade do parkour que preza pelo “Ser e Durar”, não é uma técnica que recomendo.

BRAÇOS PRA TRÁS – Ajuda na projeção seguinte para frente. Perceber alinhamento próximo com a coluna. São os braços que vão “guiar” o salto.

COLUNA – Evitar descer demais a coluna em direção ao chão (pode prejudicar sua lombar, além de comprometer a distribuição de peso). Perceba que a coluna acompanha o movimento do quadril para trás, mas continua próximo de reta.

O OLHAR – Ponto chave aqui. OLHE PARA ONDE VOCÊ VAI CHEGAR. Vocês não têm noção de como isso faz diferença. Confie em seus olhos, é sua mira. Seu corpo vai seguir para onde você mira. Isso vai te permitir calcular melhor a distância, a força, alinhar o corpo e todo o movimento que você vai fazer.

   2.

Começo do movimento de subida, as pernas começam a se estender, os braços vêm de trás pelo balanço e carregam o impulso que vai projetar o corpo para cima.

3.

Corpo totalmente alinhado e estirado.

BRAÇOS: Perceba que os braços direcionaram a todo o resto do corpo.

OLHAR: Não tire o foco de onde você vai chegar.

4.

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JOELHOS: PUXEEEEEEE os joelhos em direção ao peito. Dessa forma você vai deixar seu corpo mais concentrado, estável em seu centro de gravidade, e com mais amplitude pra controlar onde você você vai encaixar os pés.

Erro comum: muita gente puxa os calcanhares para trás ou curva a coluna.

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Pelo mordejah, não faça isso :/

Tudo bem que você tem liberdade pra fazer do jeito que quiser ou sentir confortável, mas com os calcanhares pra trás, você precisa de mais esforço pra trazer eles pra frente depois. Então a probabilidade de você não conseguir esticar as pernas na frente, ou alinhar o quadril com as pernas, é muito grande…e é mais propício a você não conseguir realizar um amortecimento eficiente, levando sua lombar pro limbo.

Jah, não curve a coluna daquele jeito, essa curvatura só faz colocar pressão na lombar, sem contar que, quando você traz as pernas pra frente de novo (isso também é comum em cats), o impacto é absorvido pela coluna, porque você não consegue fazer um aproveitamento suficiente pelas pernas por essa posição, a tendência é chegar “muito colado”, “muito em cima.”… Então, pra preservar seu corpo, evite…mesmo que a gente saiba que quando a precisão é longe que nem a peste, a tendência é nós fazermos isso…evite..

Normalmente as pessoas tem dificuldade em trazer as pernas pra cima por falta de força abdominal, ou no core. Aqui vai um vídeo com exercícios. Há dezenas de vídeos por aí com exercícios para abdomen, pesquise e encontre um que goste. Esse aqui também é intenso.

5.

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BRAÇOS: Voltam num balanço suave para trás.

Trazer eles de volta para trás ajuda a ajustar a posição do tronco para trás também. Ajustando a velocidade horizontal para frente de chegada com a estabilidade do corpo (isto é, você já está indo pra frente, com esse “deixar o corpo um pouco pra trás”, você aproveita essa velocidade pra ajustar a posição do corpo).

Muita gente no início não faz isso, e acaba indo com a coluna toda pra frente, com a velocidade jogando tudo pra frente, e normalmente não consegue cravar..a pessoa normalmente sai andando p frente..ou catando ficha..rs

PÉS: Ponta ou peito do pé.

O que vai tocar no chão é a mesma área que saiu do chão, o peito do pé, é essa região que vai fazer a conexão com os tendões, ligamentos e músculos estabilizadores do tornozelo e absorver e transferir a energia recebida pro resto do corpo. Perceba que o calcanhar está acima e o pé apontado pra baixo.

PERNAS: Esticadas ou muito levemente flexionadas.

Esse é o primeiro passo para o AMORTECIMENTO. Esticar as pernas vai ajudar no contato inicial com o solo e permitir uma absorção mais suave.

As pernas devem estar RELAXADAS nesses milisegundos de contato inicial. Se você estiver, como eu tenho essa dificuldade também, com a musculatura toda contraída, você vai tocar como uma pancada, uma pedra.

erro3Erro comum: chegar de calcanhar. Bicho, é um osso (calcâneo), você tá literalmente chegando como uma pedra na precisão, levando toda a energia direta pro seu osso, possivelmente do calcanhar para os joelhos e base da coluna. Além de possivelmente gerar lesões nas diversas articulações e ligamentos que existem pelo pé.

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Ok. Ok. Existem algumas situações em que o um toque leve do calcanhar ajuda a dissipar o impacto. Mas nesse caso, primeiro, sempre a ponta do pé, depois o calcanhar, e volta pra a ponta. De qualquer forma, não é uma forma que eu recomendo. Deve ser usada com bastante cuidado, em situações de necessidade. Por isso, lembre-se sempre de treinar seu tornozelo.

6.

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BRAÇOS: Voltam no balanço para frente de novo. Aqui você pode usá-los para fazer os ajustes necessários de posição do tronco depois que chegar.

PERNAS: Logo depois do primeiro contato, você permite a flexão e você vai fazer a aterrissagem absorvendo a energia do impacto com as pernas. Contraia. Não deixe seu corpo descer de vez. Aqui o perigo é maior, pois pode forçar de vez os joelhos. Encontre o meio termo da flexão das pernas.

PÉS: Ponta de pé sempre. Aqui você vai perceber o quanto é importante chegar na ponta, porque, além da questão de absorção, seus tornozelos vão permitir fazer ajustes no equilíbrio.

Na chegada, alguns praticantes costumam, logo após a chegada, fazerem uma abertura com os joelhos, pois pode facilitar a flexão ou o equilíbrio. No meu caso, funciona chegar com essa abertura pois sinto uma estabilidade maior, mas cabe a você experimentar e saber o que funciona.

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Erro comum: curvatura da coluna na chegada. Olha como a pressão no final do impacto vai se concentrar na lombar. Compare com a chegada de Jarbas em que a coluna está ereta e o tórax distante do joelho.joelho

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FIM! Tcharan, precisão cravada realizada com sucesso! =]

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Esse foi apenas um esboço e uma orientação, é só o começo! O universo das precisões é bastante amplo e cheio de coisas novas. Treine sempre. E muita atenção com o amortecimento, afinal você ainda quer continuar pulando daqui um tempo, né?

Espero que tenha gostado, e se não, que tenha pelo menos gerado algum aprendizado. Qual técnica ou movimento, dica você quer ver na próxima postagem? Dúvidas, sugestões, críticas…comente aí que a gente vai ter o maior prazer de responder.

O ParkourLab também tem uma aula sobre precisão com informações bacanas.

Ah! Antes de ir, não deixe de ver as 50 repetições desse salto de Jarbas. Falows!


2 comentários sobre “Salto de Precisão – Técnicas I

  1. Olá, eu me interessei por este mundo do parkour e fui pesquisar mais técnicas além da citada acima, e gostaria de saber: Será que você poderia escrever mais artigos feito esse? Iria me ajudar bastante!

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